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O contexto histórico da passagem bíblica na qual se baseia esta reflexão está relacionado à angústia da igreja em Tessalônica em face a uma dúvida relativa aos eventos relacionados à volta de Cristo. Sua maior alegria estava dando lugar à sua maior preocupação. Esperavam confiantemente pelo Senhor, mas estavam inseguros e temerosos de que, de alguma forma, aqueles que estavam morrendo sem alcançar a Sua vinda (parousia) fossem prejudicados.

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As palavras de Paulo serviram para tranquilizar aqueles irmãos, na medida em que esclareceu a ordem dos acontecimentos relativos à Igreja, ligados à parousia: em primeiro lugar, os mortos em Cristo ressuscitarão; em seguida, todos os crentes, de todas as épocas, subirão juntos, a encontrar (recepcionar) o Senhor nos ares. Este evento inaugurará o estado eterno da Igreja ([...] e assim, estaremos para sempre com o Senhor – v. 17b).

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Com base nisto, gostaria de destacar três fatos depreendidos do texto. O primeiro nos dá conta de que o sentido da existência humana não encontra seu fundamento nas experiências transitórias da temporalidade. Em outras palavras, nossa existência não pode ser justificada pelo curto espaço de tempo durante o qual nos relacionamos com este mundo. Paulo expõe isto na medida em que estabelece um paradoxo irreconciliável entre a esperança cristã e a falta de esperança do mundo quanto ao porvir. De modo diferente dos descrentes (daqueles que não têm esperança), podemos nos alegrar, pois temos a garantia de que estaremos para sempre com Cristo, e é isto que dá sentido à nossa existência.

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O segundo fato diz respeito ao conteúdo de nossa crença com relação à parousia. Compreendê-la parcialmente é colocar-se aquém da poderosa expectativa que ela deve gerar em nosso coração. O resultado da má compreensão pode ser sentimentos que vão desde a instabilidade emocional (no caso dos tessalonicenses, a preocupação e a tristeza pelos que haviam morrido sem alcançar a promessa) à total apatia espiritual (como nos nossos dias, por parte de muitos).

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O terceiro fato diz respeito à historicidade da parousia e dos eventos a ela relacionados. Para Paulo, a vinda de Jesus não é um ideal utópico, uma dramatização alegórica com vistas à mobilização dos esforços cristãos para o estabelecimento do Reino de Deus, através da transformação da sociedade. Ao contrário, ele sabe que Jesus voltará na história, visível e corporalmente, para receber sua Igreja para si mesmo. Por ocasião de Sua vinda haverá ressurreição de mortos e a Igreja irá ao Seu encontro nos ares. Por mais fantástico que possa parecer, é história a se cumprir.

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Negar o caráter histórico da parousia e do arrebatamento da Igreja é relativizar o próprio núcleo da escatologia do Novo Testamento. Além disto, a falta de percepção do significado da volta de Jesus e do arrebatamento pode deslocar o centro de nossas expectativas do porvir para este mundo, gerando em nós a ilusão de que o paraíso aqui se conquista e de que nada mais precisamos, além da felicidade nesta vida. Neste contexto, o próprio conceito de urgência missionária é esvaziado e a pregação deixa de ser conclamação ao arrependimento e à fé, e passa a ser discurso de conveniência ou mera conclamação ao engajamento pelas causas sociais.

Parousia: A Maior de Todas as Esperanças

Texto: I Tessalonicenses 4.13-18
Por Alexandre Azevedo
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